terça-feira, março 31, 2009

A 1972 Gran Torino

ISAAC HAYES- HOT BUTTERED SOUL (Stax, 1969)
Álbum de 4 temas, quebrando todas a normas que até então definiam a "Soul", os instrumentais são extendidos de forma a amaciar a nossa alma, a única forma de percebermos um estado de espírito denominado de enamoramento, em que há uma redução do estado de consciência e todo o nosso mundo gira em torno do objecto querido. Hayes descreve tudo isso de forma magistral e em muitos casos não precisa de cantar para o fazer!
Por vezes sentimos torrentes de prazer em extâse contido que a voz de Hayes provoca. Não é meloso, sentimental, alegra ou triste. É perfeito.

BOOKER T. & THE M.G.s- GREEN ONIONS (Atlantic, 1962)
Entre originais e versões de Ray Charles a Ben Tucker, passando pelo "Twist And Shout" de Phil Medley & Bert Russell. Este é um dos melhores discos instrumentais que ouvi até à data!
Booket T. cedo se evidenciou. Já no seu liceu em Memphis, Tenn. tocava baixo trocando posteriormente para orgão. Destacando- se dos demais, trabalhou como músico convidado da Stax. Daí até a este disco de estreia foi um relâmpago. O prazer é todo nosso!

SHADES OF BROWN- S.O.B (Cadet, 1970)
Na década de 70 a "Cadet" teve em bandas como os Dells, Rotary Connection e Ramsey Lewis tiros certeiros para o sucesso.
Os S.O.B eram de Chicago e tinham 4 vocalistas: Bill Brown, Christopher Allen, Charles Scott IV e Earle Roberts. Começaram por se chamar Fortrells, mudando posterirormente para Mentors, numa curta estadia de 2 singles na ABC Records. Depois sim, Shades of Brown e um gigante álbum de Funk (por vezes diabólico) e Soul, que deixou de estar perdido no tempo com esta reedição.

JP

segunda-feira, março 23, 2009

Dig We Must!

RICARDO VILLALOBOS- VASCO (Perlon, 2008)
Ao mudar- se do Chile para a Alemanha, para fugir ao regime de Pinochet, Villalobos cedo entrou na comunidade House. Estudou percussão com afinco para adicionar calor ritmado às suas produções aparentemente frias.
Vasco reúne em CD alguns temas já editados em maxi, sem as remisturas e com "Minimoonstar" a chegar aos 31 minutos, mais 18 que no vinil! É necessário muita atenção, boas colunas e tempo para mapear todas as ligeiras nuances, alterações nos padrões, linhas que desaparecem no fumo e batidas que surgem repentinamente, surpreendentes até muito tarde, quando as antevemos para o nosso gozo auditivo!
"Amazordum" e "Skinfummel", são temas de Kick poderoso, que poderão ser usadas em algumas pistas de dança :/
Em suma, mais um trabalho imaculado para o mestre do Techno que Omar- S não conhece :)

JP

quinta-feira, março 19, 2009

I Boat Captain

JOHN ZORN/ FILMWORKS XXI- BELLE DE NATURE/ THE NEW RIJKSMUSEUM (Tzadik, 2008)
Esta foi a 3ª banda sonora para Zorn em 2008, que na sua carreira já conta com mais de 50! Desta feita, dois filmes muito diferentes, que não vi. Belle De Nature é Francês e erótico, realizado por Maria Beatty. A banda sonora é feita com base em Harpa e Guitarra Eléctrica, que segundo Zorn é o meio para dar emoção terrestre ao som. Há um sentimento de pureza lírica mediaval que percorre todo o álbum, tornando- o emocionante, arrepiante e carregado de tensão sexual. Beleza e perfeição!
The New Rijksmuseum é um documentário sobre a sua renovação! Segundo o autor, o desafio desta banda sonora é capturar o sentido de algumas obras- primas do séc. XVII presentes no Rijksmuseum (Rembrands, Vermeers, casas de bonecas luxuosas...) e a arquitectura moderna do museu. Como metáfora, a Harpa seria o elemento sónico central (a arte) e a percussão, a ecoar sons de construção (o edifício), dando- lhe um sentido Barroco, que acabaria por ser uma surpresa até para o próprio Zorn!

JOHN ZORN/ FILMWORKS XX- SHOLEM ALEICHEM (Tzadik, 2008)
A música é importante em documentários e pode ajudar a amaciar transições, aumentar a tensão, adicionar drama, servir como veículo para emoções difíceis de exprimir e dar um sentido de avanço à história.
Sholem Aleichem foi um escritor obscuro que contava histórias com influência de Franz Kafka ou Edgar Allan Poe. Na óptica do realizador deste documentário a banda sonora deveria reflectir as qualidades sombrias do seu trabalho. Sendo este o motivo pelo qual Zorn aceitou o trabalho, pelo desafio de construir momentos de grande complexidade ritmica que ao ouvir soam simples e negros, criando suspense nas transições e verdadeiros calafrios.
Zorna explica os processos de criação, as dúvidas e as motivações.
Sonhamos acordados!

Há clips de som nos links.

JP

domingo, março 15, 2009

Big Thanks To...


Emissão de sábado passado na RVR, 90.2 Distrito de Aveiro, 20- 21h.

Este programa conta com um convidados especial: Rui Silva.
Acima de tudo um grande amigo e no que respeita à música o maior e melhor coleccionador de discos que conheço pessoalmente.
Maior refere- se a quantidade, não é de todo o mais relevante. Contudo, melhor já tem outro significante. Todos os discos colocados nas prateleiras da sua casa têm uma história, uma relação com algo ou alguém que pela sua originalidade, ousadia ou inteligência fez algo de verdadeiramente importante na música. Não há géneros, catálogos ou ondas, há simplesmente boa música!
Para este programa uma selecção de sonho em discos verdadeiros e temas pouco óbvios: Miles Davis, Neil Young, Pere Ubu, Charlie Patton, David Crosby e Lauren Connors.
Rui, mais uma vez muito obrigado!
Da nossa parte destaque aos Strange Boys e ao grande disco "And Girls Club"!
A playlist é dita e tentem não ligar aos primeiros 20 segundos que não fazem parte do nosso programa!

PROZAC_PODCAST_14_03_2009 (ZShare)

Rui, JP & Tozé

quinta-feira, março 12, 2009

The Piper At The Gates Of Dawn


Mais do que alteração do humor pela música, há de facto uma projecção de um estado de alma pré- existente.
Purple Pills For A Sleepless Night de Tim Sweeney, acompanha- me há várias noites, num lugar cinzento entre a euforia e a melancolia, um lugar que persigo na música ...

Esta mixtape deve aproveitar momentos de introspecção, nada de grave, uma pequena angústia de existir e o amor como cenário de fundo :)

PROZAC_MIX_30_ALONE_IN_THE_DARK (ZShare)

Playlist:
>john zorn- belle de nature [tzadik]
>robert wyatt- biko [rough trade]
>the durutti column- red square [warner]
>robert fripp & brian eno- swastika girls [dgm]
>moondog- enough about human rights [kopf]
>ana oxa- controlo totale (nassau torre di controlo edit)
>the art of noise- moments in love [ztt]
>carrie cleveland- love will set you free
>love- andmoreagain [elektra]
>andrew bird- masterswarm [bella]
>the human league- toyota city [cdv]
>actress- i can`t forgive you [werk]
>fleetwood mac- keep on going (cosmo vitelli edit)

JP

CBS Biografie

DENNIS WILSON- PACIFIC OCEAN BLUE (Legacy, 1977)
Primeiro álbum deste Wilson afastado fisicamente dos Beach Boys.
Antes de mais, um sinal de humildade: "I`m sure you understand that I`m a bit nervous about this endeavor. I want to thank you for your support and I would be very interested in any comments or suggestions you might have after listening to this album. Thank you."
Dennis foi quase forçado pela mãe a tocar bateria nos Beach Boys, pois era o único instrumento que sobrava. De surfista (o único que o fazia verdadeiramente) mulherengo que vivia rápido e partia carros a artista verdadeiro foi um longo percurso que seria praticamente impossível sem o produtor James Guercio, que reconhece: "At sound check, late at night in hotel rooms. He just blew me away with his raw talent. He was more talented than anybody gave him credit for."
Nem todo o trabalho é consistente, contudo tem muitos highlights nos 2 cd`s que fazem parte desta magnífica reedição! Caixa em cartão, desdobrável com imensa informação e estética irrepreensível :)

HERBIE HANCOCK- SEXTANT (Columbia, 1972)
Como fã incondicional de Herbie tendo a comprar muita da sua discografia tida como importante. O bom destes grandes compositores é que nos falta sempre muito :)
Sextant foi o seu último álbum com a Mwandishi Band, que apesar de demasiado criativa, teve dificuldade em vender discos na altura. Mwandishi (1971) e Crossigs (1972) são de facto incríveis e hoje perguntamo- nos como era possível a banda não dormir dias a fio, viajar numa carrinha velha, percorrendo longas distâncias com todo o sistema de som incluíndo a bateria, para receber uma ninharia... A ser possível tem de haver AMOR, é a única hipótese :)
Sextant também vendeu pouco, fazendo Herbie repensar a sua carreira. O resultado foi a separação da Mwandishi Band e mudança na sonoridade. Em 1974 surgiria Head Hunters!
Felizmente, 30 anos depois, muita gente iria achar estes trabalhos incontornáveis. O groove lento, loops enormes de baixo e solos gigantes de guitarra e clarinete, necessitam de tempo e disponibilidade.
É música de catarse e tem de ser entendida como tal.

JP*

sábado, março 07, 2009

I`m A Manchild


Programa de rádio emitido este sábado às 20h na R.V.Ria, 90.2 para quem anda pelos lados de Aveiro :)
Destaques a algumas coisas novas, que sem serem motivo para grandes considerações, achamos que vale a pena ouvir nem que seja pelo gozo que podemos tirar no imediato. Por vezes também sabe bem...
Os Tame Impala, além de dizerem que são muito bons, dizem fazer rock psicadélico hipno- groovy :/ São porreiros, não fizeram ainda nada de realmente novo mas a Modular pode dar- lhe visibilidade, como por exemplo os Wolfmother há um par de anos.
Jeremy Jay edita Slow Dance, o seu álbum de estreia, a 24 de Março. No entanto as canções apareceram no BolachasGrátis, por ex., há muito tempo. O amigo Manelix despertou- me a curiosidade e valeu a pena!
Whitest Boy Alive editaram Rules, um disco que facilmente nos mete um sorriso na cara :)
Mais Rock N`Roll crú pelos Black Lips, 200 Million Thousand é o seu novo trabalho.
Anita Blay aka The Cocknbullkid, é uma jovem Inglesa que escreve as próprias canções, On My Own Again, é um tema pop- soul enorme, enorme com os Metronomy na produção!
A playlist é dita e na gravação há 20 segundos antes do programa começar onde se ouve "ter uma namorada é fixe", não é que seja mentira, mas não se assustem. Have fun ;)

PROZAC_PODCAST_07_03_2009 (ZShare)

JP & Tozé

sexta-feira, março 06, 2009

Peace!

HUSH ARBORS- HUSH ARBORS (Ecstatic Peace!, 2008)
Hush Arbors são Keith Wood e Leon Dufficy, o primeiro já colaborou em discos dos Current 93 ou Six Organs Of Admittance. Desta vez foi Ben Chasny a fazer o solo de guitarra na incrível Follow Closely!
Embora já façam música juntos há mais de uma década e tenham várias edições em CDR, só agora se mostram devidadmente pela mão de Thurston Moore na sua editora, ajudados ainda por retirarem feedback e ruído ao seu som anteriormente experimentado e nesse aspecto Water- o tema de abertura, engana e muito. Todo o maximalismo ruidoso passa para segundo plano para se fazer ouvir ao fundo da pradaria, sabemos que lá está, latente, pode chegar a qualquer momento, cria tensão mas o que se sente são dedilhados, suspense e voz sexy a flutuar em drone! :)
No "inlay" há um lobisomen...
Love it.

JP

domingo, março 01, 2009

Kosmische

CLUSTER- CLUSTER 71 (Philips, 1971)
Banda formada por Dieter Moebius, Hans-Joachim Roedelius e Conrad Schnitzler.
Mentes exploradoras que improvisavam com o que tinham à mão. Desde sintetizadores a utensílios de culinária, tudo poderia ser útil.
Ainda hoje há quem o tente, por vezes com resultados pouco encorajadores. Haverá várias razões para isso, para mim, a principal surge no propósito: muitos fazem- no a ver se surge alguma coisa, outros têm um objectivo traçado que estará eventualmente sujeito a alguns desvios ;)
Separadamente ou em duo, Moebius e Roedelius gravaram ainda vários álbuns que vale a pena explorar, levando na viagem alguns amigos como Brian Eno, Conny Plank ou Michael Rother dos Neu!
Álbum sem beats ou riffs, necessitamos de recorrer à respiração ou frequência cardíaca para marcar o tempo em feedback, distorções de guitarra ou loops gravados em k7!
Feel the heartbeat :)

FRIPP & ENO- NO PUSSYFOOTING (EG, 1973)
Álbum gravado paralelamente a "Here Come The Warm Jets" de Brian Eno. Enquanto fazia um disco pop à sua maneira, brotava o resto do seu furor criativo com Robert Fripp!
Segundo percebi nestas gravações eram usados leitores de K7, gravados sons em loop, a estes seriam adicionados elementos audio, criando uma espessa camada sonora que virava inúmeras vezes nas cabeças de playback dos gravadores de k7, Fripp solava com feedback em cima disto:/ Ok, ficaram na mesma? Eu também ;)
Este sistema iria ser recriado Evening Star e Discreet Music de Eno.
Mais uma vez, o que se retira é a experiência de entrar noutra dimensão e ver o reflexo da nossa alma em cubos com as faces de espelhos!
Álbum, inacreditável e paixão assolapada para mim. Mais: edição incrível de cd duplo a preço de amigo na Flur, where else ? :)

Ainda,
Podcast de 28 de Fevereiro emitido na RVR (90.2 FM, distrito de Aveiro) das 20 às 21h.
Há Greg Wilson, Andrew Bird, Jim O`Rourke- Wilco- Neil Young conectados, Alps, DJ Sprikles, Archie Shepp... Como habitualmente a playlist é dita ;)

PROZAC_PODCAST_28_02_2009 (ZShare)

JP